Com ziriguidum
Um repertório de sucesso compõe a nova morada carioca da cantora Roberta Sá: tem bossa, alma e sossego a cada metro quadrado
A luz natural, a vista para o Pão de Açúcar e toda a poesia de Copacabana já seriam motivos suficientes para tornar o apartamento de Roberta Sá um lugar mágico. Mas o espaço se transformou também em um refúgio afetivo, repleto de memórias e boas histórias.
Foi aqui que sua tia-avó morou, que sua mãe se arrumou para debutar e que a cantora potiguar passou parte da infância, durante as viagens à cidade carioca. Há dois anos, o imóvel da família ganhou algumas adaptações e virou a sua morada com o marido.
“Eu sempre disse para minha mãe: um dia vou morar ali. Pela vista linda, pela boêmia da região e até pela melancolia de Copacabana, que chora com charme. É uma luminosidade e um calor que invadem e que não te deixam triste”, ela conta.
Samba e amor
Na decoração, Roberta fez questão de misturar peças novas com aquelas que já carregam história, seguindo a mesma fórmula de sucesso de sua música. “Eu misturo o samba e a bossa nova – que são tradicionais e um patrimônio cultural do Brasil – com músicos novos, porque estou sempre atenta ao que está chegando. É dessa mistura que vem a riqueza”, ela explica.
Pelo apartamento, garimpos de viagens e uma poltrona herdada de seu bisavô dividem espaço com móveis de design contemporâneo, artesanato brasileiro e muitas estampas – os desenhos, aliás, estão presentes até no piso da cozinha. “Eu tento muito ser minimalista, mas fracasso terrivelmente, porque tenho a alma barroca”, Roberta conta rindo.
E como na maioria dos endereços tipicamente brasileiros, as portas estão sempre abertas para receber os amigos e a família. De preferência, cozinhando – a cozinha toda aberta, sem portas ou paredes, e a mesa redonda, com um prato giratório no centro, trazem mais aconchego e interação total entre a cantora e seus convidados.
E vamos botar água no feijão
Não é à toa que a cozinha é a estrela da casa. Além da vista estonteante que proporciona, o ambiente permite que Roberta exerça uma paixão nada passageira, que descobriu na pandemia: cozinhar.
Hoje, ela prepara praticamente todas as suas refeições em casa – em especial o jantar, que se transforma em um verdadeiro ritual de sossego ao fim do dia: “Nada supera aquele momento, à noite, em que abro um vinho, coloco uma música e faço uma boa comida”.
A intimidade com a gastronomia caseira também fez Roberta repensar sua relação com o consumo e a quantidade de lixo e resíduos que despeja no mundo. Por isso, é comum vê-la preparar desde uma granola para servir durante um mês inteiro até um detergente de pia caseiro, receita que aprendeu recentemente. “Esse movimento é muito importante para mim e estou em um processo de total aprendizado”, ela explica.
E, entre tantas ideias, cores, sabores e boa música, a voz que eternizou o clássico “Samba de um minuto” agora embala seus dias em um refúgio feito para viver uma vida inteira e presente, que se permite esquecer o tempo lá fora.
Texto por GABRIELLA MONDRONI
Fotos por FÊ PINHEIRO